O FASCÍNIO DA PROSA
Um jovem poeta (rapaz simpático e de quem tenho aliás boa impressão) disse, há dias, numa entrevista, "estar fascinado pela prosa". E acrescentou que "tinha argumentos para vários romances".
Muitas páginas de experiência depois só posso usar a palavra "ingenuidade", sobre esta atitude. Achar que se "tem o argumento" (a ideia da coisa, depreendo eu...) é o mesmo que declarar ter conseguido que uma serpente faça o pino todas as noites. Isso simplesmente não acontecerá. "Aquilo" que um romance é, define-se muito tempo depois de se começar a escrever. Nem sequer basta conhecer todas as personagens, ou saber o que desejam elas fazer. A essência de um livro que não se queira livreco forma-se a seu belo prazer. Nem o nosso poeta, nem eu, controlaremos algum dia o processo.
ps: a este respeito recebi um post do referido autor (a quem envio um abraço), demonstrativo da sua postura séria, e esclarecendo o lado que mais me intrigara nas suas alegadas afirmações (adaptando o Pessoa, "entre o que se diz aos jornais e o que eles publicam... há uma diferença de verbo"). Não discorda na generalidade das minhas afirmações. Acrescento que seria interessante continuar esta discussão, por ser ela em muitos casos fruto de equívocos e desconsolos pós-publicação.
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